Cinema Educativo
No Brasil, a relação entre cinema e educação remonta aos anos iniciais
do século XX. O cinema educativo desenvolve-se no Brasil a partir da figura de
Fernando de Azevedo, que determinou o seu uso em todas as escolas primárias em
1929. Anos mais tarde, em 1937, foi criado o Instituto Nacional de Cinema
Educativo (Ince). Na visão do Ince o cinema funcionaria como “facilitador da
tarefa pedagógica, um colaborador do ensino e, mais do que motivação, ele seria
uma forma de propiciar alívio para o aprendizado penoso” Oliveira (2000 apud
NOMA, 2006, p. 267).
Apesar do fascínio que o cinema exercia, existia a
preocupação com o impacto moral que as imagens poderiam causar sobre a
sociedade e principalmente sobre as crianças. Quanto a esse aspecto Teixeira
(2004) nos lembra que:
O
surgimento do cinema educativo no Brasil, como vimos, vem da necessidade de
tentar controlar as imagens que se produziam sobre o país e sua realidade,
instrumentalizando essas imagens para as mudanças sociais, econômicas e sociais
que viriam, dirigidos por aqueles que detinham o poder e o saber, e definiriam
sua direção. (p. 270)
A expansão dos recursos audiovisuais tanto nos ambientes cotidianos como
nas escolas acontece com a popularização dos aparelhos de DVD e computadores:
Embora a arrasadora maioria dos filmes tenha sido feita com a função de
entretenimento, por meio deste recurso as pessoas “também se informam e formam
ideias a respeito das coisas do mundo” Bruzzo (1999, p. 3). Ou seja, embora muitos
recursos áudio-imagético não tenham sido feitos com alguma finalidade didática,
destaco o seu caráter como um elemento motivador no desenvolvimento de
atividades pedagógicas. E é desse ponto que podemos começar a refletir sobre o
papel educativo do cinema. É claro que o vídeo não tem somente a função
motivadora no processo de ensino-aprendizagem. Indicação de Carneiro (2001)
aponta outras funções do vídeo como um elemento informativo, ilustrativo, meio
de expressão. Dependendo da criatividade do professor para usar filme em sala
de aula, logicamente o vídeo passa ter outros usos pedagógicos que não os
mencionados.
Autores como Fantin (2007) e Christofoletti (2009) defendem a adoção do
cinema como um elemento enriquecedor e ampliador do repertório cultural dos
alunos e também agente de socialização na construção e partilha de significados
sociais:
Ampliar o repertório
cinematográfico das crianças significa assegurar acesso a uma diversidade de
temas, abordados das mais diferentes formas. Trazer filmes de diferentes países
e culturas para a escola e mostrar outros modos de ver significa permitir que
as crianças usufruam do patrimônio cultural da humanidade a que de outra forma
dificilmente teriam acesso, devido aos condicionantes históricos e sociais do
nosso contexto. (FANTIN, 2007, p. 07)
Ainda que grande parte das escolas recorram aos filmes como um suporte
pedagógico nas aulas, Fantin (2007) critica o fato de a escola não incentivar a
produção e criação de audiovisuais pelos próprios alunos, considerando o
pressuposto de que é preciso fazer para aprender.
Defende-se a adoção dos filmes na escola como um recurso motivador do
ensino-aprendizagem, mas a relação cinema-educação não pode se acomodar neste
viés. É preciso analisar filmes na escola de forma crítica, repensar sobre os
produtos culturais que a sociedade produz, sobre que ideologias estão sendo
transmitidas através dos meios comunicativos. Acredito em uma mediação crítica
do professor na tentativa de fazer do aluno um espectador mais crítico quanto às
suas escolhas Ou seja, pensar a relação entre educação e cinema significa
refletir também sobre a intensa produção tecnológica e cultural da sociedade e
a consequência da interação mídia-educação na formação dos alunos.
Referências
Bibliográficas
BRUZZO, C. .
Filmes e escola: isto combina?. Ciência
& Ensino (UNICAMP), Campinas, n.6, p. 03-04, 1999.
CARNEIRO, V. L. Q.
(Org.); FIORENTINI, L. M. (Org.). TV
na Escola o os Desafios de Hoje: Usos da televisão e do vídeo na escola.
2. ed. Brasília: Editora UnB, 2001. v. 01. 189 p.
CHRISTOFOLETTI,
Rogério. Filmes na sala de aula: recurso didático, abordagem pedagógica ou
recreação? Revista do Centro de Educação UFSM. Santa Maria, v.34, n.3, p. 603-616. Set/dez. 2009.
Disponível em:< http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/1171/117112620013.pdf>
Acesso em: 15 mar. 2012.
FANTIN,
M.. Mídia-educação e cinema na escola. Teias. Rio de Janeiro. v. 8. 13 p. 2007. Disponível em: <http://132.248.9.1:8991/hevila/Revistateias/2007/vol8/no15-16/11.pdf
> Acesso em: 04 maio 2012.
NOMA, A. K.. A
pesquisa histórica em educação com fontes audiovisuais. In: SCHELBAUER, Analete
Regina; LOMBARDI, José Claudinei; MACHADO, Maria Cristina Gomes (Orgs.). Educação em debate: perspectivas,
abordagens e historiografia. Campinas: Autores Associados, 2006, p. 257-275.
TEIXEIRA, Francisco
Elinaldo. (org). Documentário no
Brasil. Summus Editorial. 2004. 312 p.